A crescente adoção das criptomoedas por parte de usuários tem ligado uma luz de alerta a governos ao redor do mundo sobre a necessidade de criarem suas próprias moedas digitais.
Para se ter uma ideia, o número de usuários de criptomoedas em todo o globo alcançou a marca de 516 milhões em junho de 2023, de acordo com dados do Statista. E esse crescimento não é de hoje — de 2016 a 2018 esse número em milhões era de 5 e 35, respectivamente; em 2020, o volume já era de 101 milhões.
Por outro lado, ainda há aqueles que sequer têm contas em bancos. Até 2021, aproximadamente 34 milhões de brasileiros não tinham qualquer vínculo com instituições financeiras, os chamados desbancarizados.
Seja por falta de acesso na região em que vivem, seja por outras questões, o fato é que a internet tem o potencial de alcançar essas pessoas. E, inclusive, inovações como as moedas digitais.
É nesse contexto que surge o Drex, nova moeda digital lançada pelo Banco Central. A autarquia anunciou que se trata de uma forma para “democratizar o acesso aos benefícios da economia digital, proporcionando mais eficiência e segurança para as transações financeiras.”
A seguir, entenda o que é o Drex, como pode ser usado e quais são as oportunidades para as fintechs desenvolverem negócios a partir dessa iniciativa.
O que é Drex?
O Drex pode ser encarado como o real, moeda brasileira, porém circulante em meio digital, de acordo com o próprio Banco Central. A autarquia informou, ainda, que o Drex tem o mesmo valor que o real, ou seja, 1 Drex será igual a 1 real, o que vai diferenciá-lo de um bitcoin, que geralmente têm valores maiores.
A moeda digital será regulada pelo Banco Central, sendo emitida por uma plataforma criada pela autarquia federal. Será por meio dela que as pessoas poderão utilizá-la, porém, com a mediação de uma instituição financeira.
Como dito inicialmente, a proposta do Drex não deixa de ser uma forma de “surfar na onda” dos criptoativos, ainda que não se trate diretamente de um, em sua essência. Isso porque tem sido cada vez mais crescente a adoção de recursos financeiros por essa via.
A expectativa é de que o Drex inicie sua circulação entre 2024 e 2025, funcionando de forma plena a partir desse segundo ano.
Fase de testes
Em setembro de 2023 foram realizados os primeiros testes usando o real digital. Na ocasião, três grandes bancos brasileiros fizeram uma operação considerada piloto.
Por intermédio dela, foram realizadas transferências utilizando reservas bancárias tokenizadas, a partir da tecnologia de blockchain.
De todo modo, o Branco Central do Brasil (Bacen) segue realizando os testes para validar as operações usando a Central Bank Digital Currency (DBCD), também entendida como Moeda Digital Emitida por Banco Central.
Nesse contexto, entre os fatores considerados essenciais para que as operações vinguem estão a privacidade dos dados e a largura de banda disponível para que as instituições financeiras medeiem o Drex dos remetentes até seus destinatários.
O nome Drex
O Bacen informou, ainda, uma curiosidade em torno da escolha do nome da moeda digital, que segue uma linha bem similar ao adotado com o Pix.
Trata-se da combinação de letras: o "d" e "r" dizem respeito ao real digital. Por sua vez, a vogal "e" refere-se ao meio eletrônico, que é por onde a moeda digital circula. Por fim, o "x" sugere a conexão, dada a partir de uma tecnologia que você conhecerá nas próximas linhas.
Com o Drex, o Pix vai desaparecer?
A resposta para essa pergunta é não. Apesar de funcionarem usando tecnologias bem similares, ambos permanecerão vigentes. Inclusive, o Pix poderá ser transacionado pela mesma plataforma que o Drex, assim como será possível realizar Pix usando Drex como recurso.
Enquanto o Pix segue sendo uma transação instantânea que veio para desburocratizar funções como TED e Doc — que tendem a ser descontinuadas — o Drex nada mais é do que a versão digital do real.
O Drex é considerado uma versão digital do real, moeda brasileira em circulação na atualidade. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Como o Drex do Banco Central será usado?
O Banco Central está criando a Plataforma Drex, pela qual será possível fazer circular a moeda digital em diferentes tipos de transações financeiras que utilizarem, para tanto, ativos digitais e contratos inteligentes.
Assim sendo, a plataforma foi desenvolvida a partir da Distributed Ledger Technology (DLT), uma tecnologia de registro distribuído. Apenas intermediários financeiros autorizados poderão disponibilizar aos usuários o acesso ao Drex.
Será esse intermediário quem fará a transferência do dinheiro real depositado em conta para a Plataforma Drex, na qual o usuário também terá uma carteira digital. Essa última prática já é adotada por quem utiliza criptoativos, por exemplo.
Potencial de segurança atribuído ao Drex
Tanto a autarquia federal quanto os intermediários agirão para fornecer maior segurança aos usuários. Isso será possível em razão da existência de contratos inteligentes, pelos quais as transações serão concretizadas.
O próprio Bacen exemplifica o potencial de segurança que o uso do Drex pode proporcionar em transações financeiras de qualquer tipo.
Suponhamos que uma pessoa quer comprar um carro de alguém, porém, tem receio de efetuar o pagamento e a contraparte não realizar a transferência de propriedade. Caso o comprador utilize o Drex na operação financeira, o contrato somente será liquidado após ambas as partes cumprirem suas obrigações legais.
Dessa forma, é como se a moeda digital ficasse em uma “nuvem” e só saísse de lá para a carteira digital de destino após as partes envolvidas na negociação cumprirem com o que foi acordado.
Vantagens das moedas digitais
Para além do fator segurança, há outros benefícios que tanto Pessoas Físicas quanto Pessoas Jurídicas podem obter ao usar moedas digitais:
Transações mais rápidas
O fator agilidade também será imperativo nesse quesito. Isso porque, como já acontece com criptomoedas, as transações com moedas digitais tendem a ser processadas em poucos minutos ou até segundos. Tudo vai depender de fatores como qualidade da rede e da internet.
O que as organizações financeiras tradicionais como os bancos saem perdendo nesse contexto. Uma vez que realizar transações do tipo Transferência Eletrônica Disponível (TED) ou Documento de Ordem de Crédito (DOC) geralmente levam horas ou até dias para se concretizar, logo, as transações digitais serão preferidas pelos usuários.
Taxas mais baixas
Ainda não se sabe ao certo como ficará essa questão. No entanto, acredita-se que as taxas associadas às transações de moedas digitais, como é o caso do Drex, provavelmente serão mais baratas do que aquelas cobradas na atualidade.
Sem fronteiras
As moedas digitais podem ser acessadas tanto dentro quanto fora do país. O único item primordial para que isso aconteça é uma conexão com a internet.
Inclusão financeira
Desbancarizados tendem a se beneficiar com moedas digitais em geral. Como já acontece com outras moedas do mesmo tipo, pessoas sem acesso a contas bancárias ou linhas de crédito podem adquirir bens e enviar e receber recursos.
Mercados alternativos
Outra vantagem proporcionada pelas moedas digitais é o acesso a diferentes ativos financeiros. É o caso, por exemplo, dos chamados tokens não fungíveis (NFTs), bem como diferentes tipos de contratos inteligentes.
Por que o Drex está sendo criado?
A criação do Drex tem uma razão de ser, segundo o próprio Banco Central: trata-se de uma forma de garantir maior eficiência e segurança para transações financeiras. Além disso, a medida é considerada um meio para democratizar a economia digital, como apontado brevemente no tópico anterior.
Por economia digital, entende-se aquela que baseia suas operações a partir do uso de tecnologias digitais. Nesse sentido, a internet tem um papel fundamental para garantir transações de toda a sorte: tanto empréstimos e negociação de ativos quanto interações e as comunicações delas derivadas, ocorrendo com eficiência.
Não só a internet, como outros tipos de tecnologias consideradas digitais também são utilizadas nesse contexto. São os casos da computação em nuvem, da inteligência artificial (IA), da própria blockchain e das criptomoedas em si.
Diante desse cenário, vale comentar sobre as Finanças Descentralizadas (DeFi), que também dizem respeito a uma variedade de serviços financeiros mediados por meio de blockchain. Este, por sua vez, é uma espécie de livro de registro digital que permite operações sem intermediários.
Em vez disso, a blockchain possibilita a execução dessas operações de usuário para usuário, por meio de redes descentralizadas. É nesse sentido que a adoção de contratos inteligentes e de protocolos automatizados visa manter a segurança das transações financeiras.
Contudo, diferentemente das DeFi, o Drex vai operar de uma forma distinta, uma vez que todas as operações serão reguladas pelo Bacen. Outro detalhe é que a moeda digital brasileira necessita de intermediários como bancos e correspondentes bancários.
Ou seja, o Drex não circula na dinâmica descentralizada, embora ofereça algumas vantagens que esse mecanismo também viabiliza aos usuários.
O Bacen disponibilizou esse infográfico para mostrar como o Drex é manuseado entre as instituições e o usuário pela via digital. (Fonte: Banco Central/Reprodução)
Quais são as oportunidades que o Drex oferece para as fintechs?
Embora ainda seja necessário entender como será a implementação e adesão dos usuários à moeda digital, algumas oportunidades já podem ficar no radar das fintechs. Confira a seguir:
Tokenização de ativos físicos em digitais
Fintechs que dominem a arte de usar a tecnologia DLT, que facilita a incorporação de ativos considerados tradicionais às redes como o blockchain, provavelmente terão trabalho a fazer.
As instituições financeiras também precisarão se adequar às regras do jogo para colaborarem com a mediação dos recursos. Logo, há um nicho de mercado a ser preenchido.
Contratos inteligentes
Da mesma forma, startups que oferecem soluções de contratos inteligentes tendem a ser beneficiadas nesse contexto.
Como os contratos são feitos mediante programação e inclusão de variáveis, dessa forma, é mais uma expertise a ser suprida por negócios que operem na área.
Remessas e microcrédito
Se o Pix teve maior adesão junto às Pessoas Físicas, a tendência é de que o mesmo grupo também faça uso do Drex.
Nesse caso, o envio de remessas para dentro ou fora do país usando o real digital, bem como de emissão de microcrédito, podem ser oportunidades a serem abocanhadas pelas fintechs.
Antecipação de recebíveis
Outro tipo de negócio que tende a ser beneficiado é o da antecipação de recebíveis. Mas, para tanto, as fintechs que já atuam com este tipo de tecnologia precisam se adequar a redes como blockchain.
Crédito com garantia
Outra possível oportunidade a ser oferecida. Relembrando o próprio exemplo dado pelo Bacen, sobre transações envolvendo automóveis, assim como também poderia ser um imóvel.
Nesse caso, além de comercializar o bem, muito provavelmente haverá corporações financeiras que passarão a oferecer Drex como empréstimo, desde que um bem seja colocado como garantia.
Tokens para FIDCs
A sigla significa Fundos de Investimento em Direitos Creditórios. E essa modalidade de investimento também poderia ser praticada usando o Drex.
Assim, fintechs que se especializarem em tokens de Direitos Creditórios podem ter nesse cenário um segmento de mercado a preencher.
Stablecoins
Outra possibilidade de negócio é a de desenvolver stablecoins que utilizem o real digital como lastro. Assim, usuários de criptoativos também poderão fazer uso do Drex.
Como você pode acompanhar, Drex é a versão digital do real e a expectativa é de que esteja em circulação entre o final de 2024 e o início de 2025. A medida visa democratizar a economia, sobretudo para pessoas que ainda não têm acesso a instituições financeiras.
Nesse contexto, fintechs têm uma série de oportunidades de negócio a preencher. Sobretudo no desenvolvimento de tecnologia para auxiliar as instituições financeiras parceiras do Bacen a mediar o Drex entre usuários e organizações.
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